Ela era assim: desalinhada. Não
entendia de moda, nem sentia falta disso. Sempre percebeu os olhares dos outros
direcionados para ela. Não somente por causa da gordura excessiva, que torneava
o seu corpo, mas também pelas combinações de roupa esdrúxulas que fazia. Não
queria chamar atenção de ninguém, mas sua maneira de ser tornava a
invisibilidade impossível. Foi se adaptando ao seu jeito pop às avessas de se
encontrar no mundo.
As loiras oxigenadas da bunda dura, que trabalhavam no mesmo setor da gorda, não compreendiam como uma obesa e mal vestida podia atrair tantos sujeitos
interessantes para si. As oxigenadas passavam tanto tempo na academia enrijecendo
os glúteos, deixando a barriga enxuta e fazendo drenagem linfática que começaram
a achar que a gorda era feiticeira, porque não podia ser verdade uma mulher tão
desengonçada ter tamanho sucesso. Iniciaram um processo de indagações sobre a
maneira de ser da gorda, para tentarem desvendar o mistério.
Um dia, em um debate acalorado,
decidiram questionar a gorda sobre o que ela fazia para atrair tantos olhares
de sujeitos bacanas. A gorda disse: Ah, minha filha, é uma questão apenas de
ser menos bundística. Pediram mais explicações, mas a gorda se recusou a dar,
pois afinal a coca-cola possui seu segredo de sucesso guardado e não dá a
ninguém. Não seria ela a dar de graça o seu.
As meninas correram para o dicionário
tentando compreender a expressão e nada encontraram. Questionaram-se sobre a palavra: bun-dís-ti-ca. Será que
tem a ver com Buda? Até hoje, elas se
encontram semanalmente, para juntar as peças do quebra-cabeças. Mesmo assim, continuam horas
e mais horas nas aulas de glúteos e incluíram, na agenda, umas aulas de yoga. Um
dia elas chegam lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário