Somos
micróbios invisíveis a vasculhar a vida alheia. Vamos penetrando pedaços de
peles à mostra, apenas aqueles visíveis por quem quer se expor. Esses sujeitos
apresentam-se na superficialidade de fotos vistosas, em histórias de vida cheias de beleza e de exuberância. Status são gritados ao bel-prazer dos que
estão em rede.
Rapidamente
se desvendam os laços pontilhados ou densos de relacionamentos à distância ou
próximos. Traçamos o perfil de quem linkado em rede está ou, ao menos, o que
querem que percebamos sobre eles.
Arrotam-se
intelectualidades e futilidades. Repassam-se informações importantes e inúteis.
Ativistas conseguem espalhar suas causas rapidamente, como o fez um americano
no curto documentário Kony 2012, em que um cidadão consegue expressar a
invisibilidade de um povo e a tirania de um ditador. Na contramão, preconceitos
são disseminados com a mesma rapidez, como o fizeram duas estudantes americanas
loiras, que vomitaram no youtube a selvageria da não aceitação da diferença em
suas críticas racistas a colegas de escola.
A
comunicação é ativada, a informação é transmitida com a brevidade de um toque
e, com a fugacidade dos minutos, o mesmo assunto se esquece. Contorna-se
a vida dos outros, descobre-se mais sobre o que dificilmente se desvendaria sem
o acesso às redes.
Talentos
são revelados pela democratização das mídias. Lixos informativos transbordam a
cada clique. As enciclopédias Barsa, Mirador, Britânica da nossa infância vão
morrendo e sendo substituídas pela Wikipédia e o Google, o Pai dos burros e
curiosos. Assim como morreu a Kodak, aquela empresa que despejava máquinas
fotográficas no comércio. Estas faziam com que valorizássemos os instantes.
Acabamos
nos transformando em japoneses, os maiores registradores de imagens por
segundos, com o auxílio das máquinas fotográficas digitais e dos celulares
multi-acessórios. Além de denunciadores de atrocidades do cotidiano com o
registro de cenas dramáticas: de pais espancando filhos, de governos matando
seus civis, de enchentes consequência do descaso.
Micróbios fuçadores, registradores, repassadores, comunicadores,
editores, saboreadores, pesquisadores. Reflexivos ou não. Mecânicos ou não. Com
instrumentos ao alcance das mãos. O que somos? Protagonistas do tempo presente?
Instrumentos? O fato é que vasculhadores sempre fomos. Desde que o mundo é
mundo, estamos sempre a tentar destrinchar o que nos interessa. A coisa se
complica quando o nosso interesse passa a ser governado pelos outros sem que
percebamos. Mas será que isso demanda tanta preocupação? Ou não?
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