Sem mais nem menos, engessávamos o tempo: hora de acordar; hora de escovar os dentes; hora de tomar café na padaria e ler o jornal; hora
de ir pro trabalho; hora de voltar; ir caminhar; voltar; ver meia hora de
televisão, ou mais, caso o telejornal estivesse interessante ou se tivesse um bom
filme passando; hora de esquentar o leite, acrescentar toddy e comer pão com
queijo e ovo. Hora de ler pra estimular o sono e, finalmente, sonhar, ou não, pois
nem sempre nos lembramos das histórias do subconsciente. Cada dia que se passava,
recrutávamos o tempo feito soldados em prontidão, para martelarem as horas do
mesmo jeito.
Até que um dia desses, te vi caminhar pela rua no mesmo
horário em que eu caminhava. Você deu um sorriso tão generoso, tão receptivo,
que me destroçou e eu retribui. Voltei pra casa e comecei a mirabolar todas essas
conjecturas. Presumi que você tem uma rotina toda sua, que engessou os
segundos, mas que amanhã no mesmo horário de sempre, hora da caminhada, tudo se
transformará.
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