artista Cherie Strong |
De tão pouco que se conhecia, forjava a própria aparência. Todas as manhãs, escolhia uma maneira nova de se mostrar. De um dia para outro, sabia que poderia atrair novos olhares a depender da roupa, da postura, das pausas na fala. Era uma lagarta assim que despertava, e conforme ia caminhando até o banheiro sua alma se borboleteava.
Até que um dia se olhou no espelho e vasculhou os traços
que davam expressão ao seu rosto. Atentou para as linhas que delineavam o seu corpo.
Voltou-se para o guarda-roupa e não quis nenhuma vestimenta. Saiu nua. Na rua,
ninguém a observava. Era transparente aos olhares dos transeuntes. Por que não
se envergonhava diante daquela inusitada experiência? Somente seguia colocando
um passo diante do outro. Seu corpo, por inteiro, sentia a brisa e o calor do
sol. Toda sua pele respirava.
Caminhou, em silêncio, até o parque inundado de pessoas,
porque era feriado. As crianças corriam, gritavam brincando de pic-pega.
Voltou ao seu apartamento. Alcançou o quarto e lá se viu. Seu corpo continuava
ali, em frente ao guarda-roupa, sem saber quem queria aparentar ser naquele
dia. Seu pensamento tinha caminhado livre. Mas já tinha voltado a si.
Foi até a janela, abriu as cortinas e deixou o sol
entrar. Vestiu uma saia longa azul qualquer. Queria deixar o tecido pousar em sua
pele e deixar o tronco nu, para sentir o sol de duas formas, sobre o tecido e diretamente sobre sua pele. Permaneceu ali, na cama, seminua, sem querer forjar-se aquele
dia.
Bem legal.
ResponderExcluir[pá, pá, pá, pá, ...]
ResponderExcluirMeus aplausos, Hanna.
Excelente!
Sempre há uma revelação para nós mesmos do queremos mostrar e outra muito maior do que esperamos que vejam em nós.
Abraço!