Escapamos de pessoas, elas se
perdem da gente. Por vezes, nem se percebe que aquele ser já tinha se ido há
muito e, mesmo assim, lá está ele ao seu lado por mais alguns anos, meses, dias. Protelando
o adeus. Talvez pela dificuldade da despedida, talvez pelo medo momentâneo da
solidão.
Essa tal persistência por
quedar-se ao lado do ser que está enraizado na sua vivência, pode ser sinal de
que o amor transformado em amizade, na partida, vai retirar parte do que você se
transformou. Parece doidice perder noites umedecendo travesseiro e brigando com
a impossibilidade de atravessar a porta e partir.
A dificuldade de deixar ir
embora aquele ser que já descobriu suas manias e contradições faz parte de uma
das leis da física. A inércia. Somos seres inerciais sim. Somos essencialmente preguiçosos, deliciosamente acomodados, vivazmente
enraizados.
Isso
dificulta tudo. Gera o temor das mudanças, da busca pelas imperfeições de
outras formas de se lidar com a vida. De ir em busca de outros seres tão
espetacularmente cheios de novas possibilidades.Ou simplesmente de ficar consigo mesmo e tudo bem.
É
isso...
Chegou
o dia em que se virou mais uma das páginas do seu cotidiano e você conseguiu se
despedir: a dor apoderou-se de você, porque dali em diante sabia-se da
impossibilidade de um retorno. As imperfeições de uma vida construída, dos
silêncios da vida a dois que não puderam ser preenchidos com entendimentos.
Aos poucos, aquele ser foi se distanciando,
até que se configurou mais uma pessoa especial no seu porta-retratos da
memória. E o tal tempo transcorrido se traduziu em ecos de vozes veladas da
incapacidade de se construir mais aquela vida em comum. Ainda assim, em
momentos de lembranças, você queria voltar atrás, e berrar aos quatro cantos
àquele que já se foi:
- Dê meia curva, volte pra perto!
E a pessoa que você amava
continuou a trilhar o próprio rumo pelo caminho oposto ao seu. A dificuldade de se
enxergar a nebulosa sensação de nunca mais voltar a amar aquele ser como
antes. Momento da paixão desesperada, da confiança estabelecida e das
incertezas da vida em comum.
Por que não perseguir os
próximos passos rumo à continuidade de uma vida com ele? De uma vida com café
da manhã diário, da rotina com idas e voltas do trabalho, dos finais de semana
regados a companhia dele?
Simplesmente, porque não foi
viável, não foi saudável e sim necessário. As pequenas brigas cotidianas, as
palavras mal colocadas, as rosários traçados com manta de mágoa, aqueles desrespeitos que foram empilhados. Desfizeram a sensação
de querer mais, de querer tê-lo, de desejá-lo.
E assim se foi o primeiro amor.
Depois, o segundo amor e mais alguns outros. Cada qual levou consigo um pouco
do que você foi se transformando e você carregou pra você algo deles.
Ah, o amor mexe com algo aqui
dentro e destaca partes de você que pouco conhecia. E nos momentos de estar só
lá também você se encontrava.
Mas o melhor de perder um amor,
é reencontrá-lo no meio de qualquer lugar, sem muito procurá-lo, e assim se dá
o amor presente e quem sabe esse não se irá tão cedo.
Olá, Hanna.
ResponderExcluircomo sempre, achei tua escrita fascinante. A forma como abordou um assunto que, por vezes, nos deixa tão tristes, sem levar à tristeza, antes fazendo pensar sobre coisas tão singulares.
Doce abraço!