O tempo apressa. As palavras fogem. A sensibilidade se cansa
na embriaguez do cotidiano atarefado e atordoado pelos compromissos que preenchem
os minutos escassos de ócio.
A rotina de prazos infindáveis. Peças processuais que se
desenrolam na defesa das muitas indefensáveis causas. Sacodem-se Códigos,
Jurisprudências, Doutrinas. Tudo para que os recursos sejam ao menos
conhecidos, sem multas.
Oh, sufoco dos desencantos com o Judiciário que por tamanha
morosidade muitas vezes os processos nascem, mas nem sempre se enxerga quando
irão morrer e se solucionar algo que deveria ser finalizado em pouco tempo.
Essa instituição que amontoa papéis burocraticamente bem
delimitados por volumes que se sobrepõem e sobrecarregam a coluna de quem deles
sobrevive. Gasta-se tempo manuseando as infindáveis folhas de cada vida que
pleiteia a solução de um direito que pensa lhe ser justo, porque é Justiça que
se busca alcançar.
No oco das horas, enxuga-se gelo tentando reverter decisões
consolidadas ou defendendo-se do que já se venceu e se pretende continuar a
ganhar. A arte do convencimento dos outros e de si para não deixar acabar o que
não deveria nem ter começado se o mundo fosse perfeito, com pessoas recebendo o
que lhes são de direito e pessoas praticando efetivamente o que são os seus
deveres.
Perdida no amontoado do juridiquez pronunciado por “doutores”
e “doutoras”, peço vênia para isso,
peço data máxima vênia para aquilo,
pois afinal essas expressões servem para não ofender o ego dos “doutores” de
plantão. E em cada audiência, a palavra Excelência não pode deixar de ser pronunciada.
E para poder recorrer de qualquer coisa dita em audiência, não posso deixar de constar
em ata o dito, pois o que não está nos autos não está no mundo.
Assim, me descubro uma pessoa que mais pensa no porvir do
que no agora. São tantos prazos fatais que não podem ser perdidos, porque senão
quem perde o pescoço soy yo, que a
vida segue seguindo mais rápida do que nunca, na velocidade dos artigos que
enumeram os dias que devo interpor recursos e dos artigos que enumeram os prazos
prescricionais para eu agir e não deixar o direito se esvair.
Aí o tempo escorre, os prazos são cumpridos e à medida que
os grãos se amontoam na ampulheta do tempo, a poesia se contrai na exaustão de
mais um dia pensando no futuro que colhe, no passar dos dias, fôlego por mais
uma causa ganhar.
Oh, insensata profissão!
Olá, Hanna.
ResponderExcluirFico imaginando o que o bem intencionado Hans Kelsen, que acreditava que o direito é a melhor forma de ordenar a conduta humana, diria se pudesse analisar nossa judiada balança pátria.
Um abraço!