Se um dia fosse possível a todos desfazer parte do que
construiu, transformar isso em alguns tostões e caminhar pelas estradas de diferentes
lugares, todos seríamos quiçá menos ensimesmados, menos mecanizados, menos
produtores de lixo, mais consumidores de experiências, sensações e descobertas.
Se a todos fosse dada a chance de sair do seu universo
interior e vasculhar outras formas de vida, de palavras; talvez fossemos menos
carentes de presença em redes desconexas, desarranjadas, sem afetuosidade.
Quem sabe poderíamos desfazer o miolo de respostas prontas,
socialmente engessadas. Não teríamos medo de sermos volúveis, desconexos e
desestruturados. Afinal, de que serve a vida coerentemente traçada em passos
cartesianos e metodicamente alinhavados.
Ah, se a cada sintoma de disfuncionalidade dos sinais
vitais, todos chutássemos o balde e nos entregássemos às estradas geográficas
que circundam o mundo com suas diferentes paisagens e pessoas, toda a sociedade
ganharia em amabilidade.
Por que ainda damos demasiada importância a uma vida com
raízes, vigas e estruturas? Indo em busca disso, dia e noite, noite e dia,
dignificando esse status. Qualificamo-nos, denominamo-nos. Assim, diante dos
diferentes adjetivos que as instituições e pessoas nos dão, muitas vezes, não
nos reconhecemos.
Perdemo-nos em questionamentos que exigem respostas
plausíveis e racionais. Mas, as tais respostas inevitavelmente são inacabadas,
truncadas e, muitas delas, inexistentes.
Nesse sentido, sair do lugar comum, do lugar de origem,
viajar possibilita uma imersão nessa sinuosidade que é viver. Percebemos a condição de sermos humanos.
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