No momento em que alguém vem despejar no meu ouvido papos caviar quando, na verdade, o papo está
mais pra feijão com arroz e ovo frito, eu já vou logo desviando o eixo da
conversa e temperando o suposto caviar alheio com muita pimenta de cheiro das
baratinhas mesmo. Por quê? Oras, chega uma altura da existência humana em que
qualquer cidadão comum apenas quer se relacionar com os outros de igual pra
igual, sem muitas firulas, nem muitos frufrus. A ideia é conversar sem que as
pessoas coloquem o carro na frente de quem anda de jegue, nem o rolex na frente
de quem usa relógio comprado na Feira do Paraguai.
Alguém que
comece uma frase afirmando que “a trans-subjetividade do mundo contemporâneo
leva o homem líquido aos descaminhos da relação com a alteridade”, é digno de
um gruindo: Hum? Essa frase é de tirar o apetite de qualquer cidadão “normal”. Depois
ouvir citações de Lacan, Foucault, Nietzsche e de quebra Guattari e Deleuze, a
cada 4 minutos, é de partir o coração de qualquer pessoa que quer dialogar sem
se sentir em uma tese de mestrado repleta de citações nas notas de rodapé.
Ainda por cima, ter de ouvir críticas e instruções de como ter uma
vida saudável e uma velhice tranquila. Ser discriminada por não comer tudo 100%
orgânico e ouvir que eu sou uma capitalista selvagem só porque eu gosto de Mc
Donalds, não dispenso uma coca cola e não leio todos os rótulos de alimentos
que compro. Além disso, ouvir que a sociedade está pior porque existem pessoas
como eu, que se graduaram numa universidade de qualidade, e ainda assim
continuam financiando as empresas de junk food, que são responsáveis pela obesidade mundial. Afinal, eu sou a responsável pela escolha alheia? Será que os adultos do século XXI se tornaram retardados e precisam ser tutelados pelos cidadãos da geração saúde que "sabem" o que é bom para todos?
Sem dúvida, esses cidadãos bons de coração são uns dos maiores totalitários dos dias atuais: os naturebas e os
intelectualóides. Ah, sem contar os religiosos nazistas de situação. Isso porque
quem não se adéqua à crença ariana desses espécimes evoluídos tá no sal. Vai
viver as amarguras no inferno das almas pecaminosas de Dante. Tudo se subverteu atualmente na lógica do amor trazida pelo cristianismo. As religiões se transformaram em sinônimo de intolerância aos que não pensam igual aos dogmas pregados. A liberdade de crença deve ser silenciada para não ser transformada em violência.
Da mesma
forma, vejo o sujeito que esbraveja o socialismo de forma tão anacrônica. Afirmando
que, na luta entre o capital e o trabalho, o empregado sempre é explorado. Mas quando
se olha de perto o microcosmo do sujeito que se estapeia com quem pensa
diferente dele, lá se observa a empregada doméstica do Che Guevara new generation sem ter a carteira
assinada.
Será que eu
preciso me internar em alguma clínica psiquiátrica pra me sentir mais incluída
nesse mundo pós-moderno? Ah, quer saber... Sou
da seita do iê-iê-iê: “E que tudo mais vá pro inferno.” Salve Erasmo Carlos!
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