quarta-feira, 26 de junho de 2024

Uma carta.


 

Se você soubesse o quanto você é capaz de desvendar e vasculhar cada canto empoeirado das suas memórias, das histórias colhidas da boca dos outros, dos pedaços de papéis lidos, de paisagens vistas, dentre tantas outras possibilidades de colher imaginações; você não ficaria tão inerte, tão preguiçosa para desembuchar suas criações em papel. Na palavra, a gente se descobre, a gente se revela, a gente se aprofunda.

Toda vez que alguém te fala que não sabe ler, nem escrever, uma dor de solidão se abriga no seu coração, porque não saber ler, nem escrever, chega a ser um vácuo intangível da existência humana. Não saber ver o mundo também pelas palavras, chega a ser uma forma de não caminhar pela vida.

Você sente uma urgência de que a todos seja dada a oportunidade de ter uma existência mais presente de silêncio acompanhada pela imaginação das vozes reveladas pelas palavras, é que a ninguém pode ser dada a chance de não aprender o alfabeto. É na palavra escrita que se completa uma parte importante de se dar passos por outros caminhos para além daqueles que damos com nossos próprios pés.

 

(Esse texto foi inspirado por uma conversa com uma amiga que tava buscando informações para irmos a um passeio de barco. Ela escreveu pelo WhatsApp a um guia e ele pediu para que ela falasse em áudio, porque ele não sabia ler nem escrever. Quando ela me falou isso me deu um aperto no peito e, pela primeira vez, vi uma função social nessa função do WhatsApp - o áudio. Todos deveríamos ter o direito de sermos alfabetizados).

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